MENSAGEM DE BOAS FESTAS 2008 2009

Obrigado, Girão. Partilho dessa opinião.

Eu já não gosto do Natal. De facto, cada vez acho mais que o Natal é uma seca. E cada vez estou mais convencido que mais de metade da nação já concorda comigo, mas não consegue assumir-se publicamente e libertar-se dos grilhões impostos por esse monstro consumista e interesseiro em que nós proprios, genericamente, transformámos o Natal. Tambem aqui era necessário um novo 25 de Abril, uma revolução de costumes que pusesse fim a este disparate sazonal que é ainda denominado de Natal, como se isto ainda tivesse alguma coisa a ver com a natalidade, a do Messias ou de outro qualquer ser.

O Natal, este Natal que conhecemos, representa neste momento apenas e só a perversão, a corrupção dos valores subjacentes a esta quadra, e que são:
- do ponto de vista religioso, um periodo calmo, pacifico, de recolhimento e meditação no milagre da encarnação do Messias, e no seu significado para a Humanidade.
- do ponto de vista social, um periodo de intimo convivio familiar, de sobrelevação de laços afectivos, e de solidariedade com os mais necessitados.
-
Em vez disso, o que é que temos?

- A obrigação social, feita urgencia, feita stress, feita desperdicio. Correr, correr muito, para ser dos primeiros a comprar uma carrada de bugigangas, quantas vezes inuteis, apenas para ter qualquer coisa embrulhada num papel bonito, para dar a Fulano, porque se vamos dar a Beltrano, temos que dar a Fulano senão ele leva a mal, ou porque, como recebemos uma de Fulano, que não nos serviu para nada e nem sequer gostamos, estamos na obrigação de lhe dar qualquer coisa, ainda que um traste, tambem.
- A obrigação familiar, feita abundancia, feita exagero, feita desperdicio, para com as crianças. O submergir da arvore de Natal com embrulhos e mais embrulhos cheios de brinquedos, tantas vezes despropositados, tantas vezes repetidos, apenas porque tem que se comprar e nem se verifica antes se vale a pena ou não (o sindrome das 10 barbies e dos 15 Action Mans). A subversão das crianças, que perdem por completo a noção dos “porquês” do Natal, concentradas que estão no delirio egoista de esventrar sofregamente pilhas de embrulhos naquela noite, querendo ter todos, e acabando por não valorizar nenhum em particular. – “este foi a tia que deu, filho! Dá um beijinho á tia, e diz obrigado!” – e já o brinquedo foi pelo ar, mesmo sem o tirar do pacote, porque ainda há mais para abrir. Quais agradecimentos! Qual tia ? Quero é abrir o proximo embrulho! Pergunta-se á criança: “para ti, o que é o Natal?” . O que é que ela responde? “É bom porque tem prendas, e ... porque tem prendas!”

Eu cá não gosto destes Natais. Cada vez estou mais cansado deles. E sei que muitos dos que lerem estas linhas estarão de acordo comigo. Falta-nos é a coragem para assumir a ruptura e regressar ás origens.

Ainda assim... um feliz Natal, Girão! Porque o seu talvez possa ser diferente, para melhor, deste que descrevi.

Pensei o que tinha vontade de dizer este Natal aos meus amigos e em especial ao "Grande" Fernando Girão, Decidi escrever pouco, apenas uma mensagem que aqui deixo de recordação, com Votos de Boas Festas, porque apesar de tudo, temos Sorte... Somos "Filhos do Natal"!



Feliz Natal



Um Mundo sem amanhã

O que eu mudaria

Nasci numa manhã

Se mi quente de Setembro

Desse dia não me lembro

Hoje eu pensaria

Nesse dia foi Natal.

Seres humanos nascem

Sem camas quentes

Sem cuidados médicos

Crianças sem pai

Crianças sem Lar

Nem sempre é Setembro

Muito menos Dezembro

Sem Futuro

Sem esperança

Sem calor

Tive sorte!

Nasci em Setembro

Numa cama quente

Com cuidados médicos

Tive Pai e Mãe

Sou filha do Natal.

Mas não esqueço

Os que nunca tiveram Natal!

Porque para muitos

O Mundo não tem Amanhã

O ser Humano não muda!

MC/2008

Caro Girão:

parabéns pelo Fan-Club. Já fazia falta. Ás vezes sabe bem saber que não estamos sós e que aquilo que criamos chega às pessoas, mesmo quando há tantas barreiras (artificiais) que o impedem.

Sobre o Natal, acompanho o teu pessimismo. Ouvi algumas dessas mensagens hipócritas e vi o espanto de jornalistas e políticos ao verem Israel atacar a Palestina nesta época (como se o não fizessem ao longo de todo o ano... e como se esta época fosse o momento em que a mão que atira as pedras se deve esconder atrás das costas e ser desculpada por um sorriso tolo na face...). O Natal do passado tem cada vez menos futuro. Por isso aspiro também ao Natal do futuro. Ele aproxima-se. A noite é mais escura mesmo antes do alvorecer.

Não baixes os braços.