Fado. A nossa vida é um fado. Neeeeeegro. Nunca foi tão verdade como agora, ao que parece. De facto, e levado ao extremo, o Girão poderia agora recriar essa canção, trocando as vogais da palavra sinónimo de sina, de destino. Sim, que de tanto levarmos na cabeça, já deixamos de ser fadados, para passarmos a ser fo... isso.
Numa altura em que, numa sala fechada, ao longo de não sei quantos dias, "la creme de la ...merde" da classe politica da nação discute, entre imperiais e tremoços (imagino eu, pois para demorarem tanto devem estar na galhofa) o nobre e fatidico destino da nação, nas entrelinhas dessa nova carta de navegação á vista, chamada de 'Orçamento de Estado' (... de Sitio, apetece-me dizer), documento-sentença de vida. Sim, de vida, não de morte, que, se de morte, breve seria a agonia, e longa esta se adivinha. Apetece pensar que o mundo não tem que ser exactamente assim como nos quer impingir esta corja. Apetece-me gritar uma frase que já ouvi, que nos é familiar, entre os que aqui andam, no universo Girão: "EU NÃO QUERO ESSE AMANHÃ"!
Girão, Xaman, leva-nos para o teu alter-mundo ideal, feito de paz, de musica e de afectos. Não consegues, pois não? Consegues, sim! Cada vez que um disco teu espalha melodia pelo ar, tu consegues! Pelo menos por uns breves minutos, chegamos ao teu céu, e esquecemos este inferno. E assim, oiçamos musica! Oiçamos Girão! Somos poucos, bem sei; somos poucos, bem sabes. Mas poucos que sejamos, somos unicos, somos nós, temos a chave, e sonhamos diferente, sonhamos mais á frente, sonhamos a cores, nas cores do arco-iris, sentados nas claves, colcheias e semi-fusas aniquiladoras de todos os orçamentos e seus demónios.
EU NÃO QUERO ESSE AMANHÃ!
(...) " Vivemos com medo
Da vida, dos outros, de perdermos o emprego
Do aparecer das rugas, da velhice prematura
Da morte segura, de não termos nunca sorte
Da inveja do vizinho
Dos carros loucos nas estradas, da nova doença conhecida
Da poluição, da corrupção, da política
De alguma vez pisar a linha que separa a civilização
Da escura ignorancia, da mentira, da inconstancia, da inocencia perdida.
Vivemos tão cansados
Conformados com a nossa dor
Com essa falta de amor
Que fingimos não ser nada
Eu não quero esse amanhã
É preciso ter cuidado
Aqui anda tudo errado
O mundo de pernas para o ar
É necessário não voltar
Aos mesmos erros do passado".
PS - este momento de inspiração teve o alto patrocinio do album "Olhos nos olhos" de Fernando Girão, e tambem da garrafa de Cardhu que tenho ao alcance dos dedos da minha mão esquerda, a escassos centimetros do teclado.