Dizia-se (ultimamente já nem por isso) que ‘a união faz a força’. Diz-se tambem que ‘Quando o Maomé não vai á montanha ...’. Existe ainda outra que diz que ‘Quem não tem cão, caça com gato’. Qualquer destes provérbios ou citações pode ser aplicada á ideia que pretendo desenvolver com este texto, e que me martela os neurónios há vários anos: porque é que os artistas que mais dificuldades têm em mostrar a sua arte, são os que menos projectos em comum constroem? Para quem, como eu, está do lado de fora dos circuitos criativos, promocionais e editoriais, parece um absoluto absurdo que ocasionalmente vejamos nascer bem sucedidos projectos conjuntos entre musicos consagrados e conhecidos (a “Resistencia”, o “Rio Grande”, os “Cabeças no ar”, por exemplo), que porventura nem seriam os mais necessitados dessa projecção mediática extra, e nunca vejamos acontecer nada do genero com grandes musicos que estão na sombra, e que decerto precisaríam muito mais dessa promoção extraordinária que advém sempre de um projecto conjunto a várias vozes.
Pessoalmente, e do alto da minha ignorância, até estou convencido que, ultrapassadas as primeiras dificuldades logisticas para juntar todos os envolvidos e alinhavar as linhas mestras do projecto, seria muito mais fácil convencer uma editora a gravar esse projecto, e até, em ultimo caso, a repartir custos entre todos. Se calhar o Girão, a Dina, a Lara Li e o Mário Mata (para dar apenas um exemplo de alguns nomes que encaixaríam potencialmente num projecto deste tipo) sozinhos não podem suportar os encargos, mas todos juntos, sob o nome de projecto musical “Os proscritos” talvez até possam, ou pelo menos parte deles, deixando a editora muito mais á-vontade no que respeita ás expectativas do break-even financeiro do projecto. Melhor ainda, pois é certo e sabido que se o Girão sozinho vende 1.000, e cada um dos outros, por si só, vendem tambem 1.000 (e sei lá se são 1000, 500 ou 100, é apenas um exemplo), um projecto feito a 4 vendería pelo menos 4.000, e ainda mais seriam pois há sempre a considerar o efeito ‘novidade’, que potencía a promoção nas rádios e TVs, de uma forma que nunca acontecería em projectos individuais.
Além disto, este efeito ‘novidade’, além de melhores resultados nas vendas, representaría certamente num ainda maior sucesso na estrada, em espectáculos, já que uma ‘joint-venture’ deste calibre permite mais publico, e mais economias de escala no que respeita a meios envolvidos: não é preciso levar os musicos de cada um, mas apenas uma banda unica, por exemplo.
Noutra vertente, fala-se muito naquilo que o ‘sistema’ não deixa fazer, porque quem tem o poder de divulgar e promover não o faz, e os artistas não podem lutar contra isto. Pergunto eu: qual é o papel da Sociedade Portuguesa de Autores em tudo isto? Diz-se que não há um espaço em televisão para promover os artistas nacionais, onde se possa ir tocar ao vivo e mostrar o que sabe fazer, o que se vai editar, ou o que já se editou. Pois é verdade, não há. Mas o espaço em TV, em ultima análise, negoceia-se, não é? O mesmo se passa na Rádio: as rádios nacionais não passam musica portuguesa, com raras excepções, e exceptuando os consagrados, os mesmos de sempre, que já não há pachorra para ouvir, porque soam sempre ao mesmo. Pois bem, porque raio a SPA, enquanto autoridade máxima neste país, na defesa dos interesses dos artistas portugueses, não arranja meios de poder adquirir esse tempo de antena em rádio e TV? Comprem uma frequência, e criem a Rádio SPA! Desenhem um projecto de TV dedicado á musica portuguesa, contactem uma produtora de programas de televisão e vendam o projecto prontinho á RTP, que tem a obrigação de o aceitar, em nome do dito ‘serviço publico’. Não há dinheiro? Façam lobbying a sério, promovam a guerra pela alteração legislativa e o seu cumprimento, façam um festival anual estilo 'Festa do Avante', em que durante vários dias os musicos tocam todos gratuitamente, e todas as receitas do evento servirão para ajudar a pagar as despesas do ano seguinte, aliciem uns mecenas a patrocinar o projecto, que aquilo depois até se desconta nos impostos, e tal ... enfim... MEXAM-SE! Sim, volto a perguntar: para que raio serve a SPA, afinal? Para registar ‘patentes’ de canções, só? Ora ... abóbora!
Isto digo eu, que não percebo nada disto, mas chateia-me tanto esta inércia, esta estranha forma de pactuar com o ‘establishment’...
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